Análise e caracterização estrutural de formações cristalinas intra-hepatocitárias em fígados humanos
Estudo por microscopia electrónica e difracção óptica

A aplicação das técnicas ultrastruturais ao estudo dos processos patalógicos, permitiu a caracterização do substrato morfológico de muitas alterações funcionais e orgânicas da estrutura dos seres vivos, bem como, em alguns casos, a identificação dos agentes por elas responsáveis. A esse progresso, correspondeu a necessidade da aplicação de novas técnicas, pela limitação encontrada ao uso da microscopia electrónica convencional, na definição das características e do significado de muitos dos achados subcelulares considerados anormais (19, 31).

Unidade de Microscopia Electrónica, Faculdade de Medicina de Lisboa, Lisboa.

Grupo de Física dos Plasmas, Laboratório de Física e Engenharia Nuclear, Sacavém.

Laboratório de Virologia, Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil, Lisboa.

Trabalho premiado com o 2º Prémio Pfizer - 1977. As estruturas de arranjo cristalino ou paracristalino são exemplo da insuficiência da microscopia electrónica de transmissão na caracterização, identificação e determinação do seu significado biológico. A existência de cristais intracelulares, incluídos ou não em formações envolvidas por membrana, tem sido descrita em várias estruturas animais, quer normais quer patológicas (4, 9, 10, 29, 33, 38, 50). Na grande maioria das situações as suas características, admitindo-se, contudo, como mais provável, tem natureza proteica, em razão da sua configuração estrutural.

 

As técnicas de microscopia electrónica de transmissões não são de molde a definir exactamente a natureza destas formações, nomeadamente, o seu arranjo espacial. Um modo de abordar este problema é o da determinação das características cristalográficas e das dimensões da célula elementar da malha cristalina, de cuja repetição resultam os agregados que têm sido designados de cristalinos, paracristalinos ou cristalóides.

A diversidade de aspectos morfológicos que podem encontrar-se na observação de estruturas periódicas pode, em muitos casos, corresponder a diferentes secções de uma mesma formação cristalina.

A utilização de goniómetros acopulados ao microscópio electrónico, permitindo a rotação da amostra em torno de 2 eixos perpendiculares, e normais à direcção do feixe de electrões, possibilita uma melhor compreensão também da disposição tridimensional das periodicidades (24, 25, 58).

A difracção de radiação luminosa em imagens onde existam estruturas periódicas permite, não só a sua individualização de um fundo <caótico>, como revela também as dimensões das respectivas periodicidades (3, 8, 30).

O estudo da variação da distância entre os pontos de difracção das imagens obtidas por microscopia electrónica, para diversas inclinações da amostra em relação ao feixe de electrões, possibilita definir as dimensões da célula elementar (46).

As formações cristalinas em fígados humanos têm sido descritas, sobretudo, no interior das mitocôndrias, sendo várias as situações clínicas que se associam à presença de cristais intramitocondrias nas células parenquimatosas hepáticas (Quadro I). As estruturas cristalinas citoplasmáticas têm sido raramente observadas nos hepatocitos humanos, não ultrapassando as duas dezenas as descrições até à data registadas na literatura (Quadro II). Desconhece-se se as várias inclusões cristalinas correspondem ou não à mesma substância, bem como se ignora a sua função na célula hepática.

No presente trabalho são apresentados resultados obtidos com a utilização convergente de técnicas de microscopia electrónica e de difracção óptica, no estudo de formações intrahepatocitárias periódicas, de arranjo cristalino, observadas em biópsias humanas, de material dos Autores.

QUADRO I

Cristais intramitrocondriais em hepatocitos humanos e situações clínicas associadas

  • <Normal> (5, 27,28,48,63)
  • Doença hepática alcoólica (17, 21,23,45,*)
  • Hepatite aguda viral (4, 18,59,*)
  • Hepatite crónica (*)
  • Colestare intra e extra-hepática (16, 18,46,*)
  • Fígado com metástases (11, 51)
  • Doença de Wilson (54, 55)
  • Diabetes (4, 63)
  • Doença de Gilbert (34, 36, 63)
  • Síndroma de Dubin-Johnson (36)
  • Síndroma de Rotor (6)
  • Síndroma de Crigler-Najjar (6)
  • Drepanocitose (55)
  • Doença de Waldestrom (48)
  • Amiloidose (63)
  • Mucopolissacaridose (15)
  • Contraceptivos orais (hepatite tóxica) (14)
  • Intoxicação por cogumelos (hepatite tóxica) (43)
  • Halotano (hepatite tóxica) (61)
  • Híperlipidémia tipo 1 (4)
  • Portadores assintomáticos de Ag HBs (57,*)

(*, presente série)

QUADRO II

Cristais intracitoplamáticos sem membrana envolvente em hepatocitos humanos e situações clínicas associadas

  • <Norma> (13, 37, 49)
  • Doença hepática alcoólica (9, 13, 41)
  • Icterícia idiopática crónica (13)
  • Colangite crónica (39)
  • Doença de Gilbert (35)
  • Síndroma de Rotor (35)
  • Fígado com metástases (52)
  • Tuberculostáticos (hepatite tóxica) (9)
  • Nitrofurantoína (hepatite tóxica) (9)
  • Fibrose hepática congénita (13)
  • Doença de Wilson (56)
  • Porfíria cutânea tarda (56)
  • Esferocitose hereditária (60)
  • Lupus eritematoso disseminado (44)
 

Completou-se a metodologia de estudo com a técnica da filtragem espacial (42), em casos seleccionados, e testaram-se alguns dos esquemas cristalográficos propostos, confrontando-os como o padrão de difracção óptica de imagens reproduzidas por computador, a partir das dimensões obtidas para a célula elementar da malha cristalina.

Pretendeu-se, assim, obter uma perspectiva global das formações cristalinas intra-hepatocitárias, no que diz respeito à sua natureza e eventual significado, tendo por base a análise da sua estrutura e identificação das suas cristalográficas.


PrémioPFIZER 1977 PROCESSADOR DE IMAGENS F. CARVALHO RODRIGUES * JORGE SOARES * J. MOURA NUNES



[ Quem Somos | Contratos de I&D | Produtos | Notícias | Publicações
Formação | Prémios | Clientes | Mapa do Site | Home Page ]

© Copyright 1996, 1999, INETI - DOP
Última actualização:03-04-2000
Pedidos de informações: Drª. Cristina Aguiar
Webmaster: Luís Crespo
Art Director: Dr. Carlos Duarte
Responsável: Engº. José Cabrita Freitas
Campus do INETI, Edifício D - Estrada do Paço do Lumiar, 22 - 1649-038 Lisboa, Portugal - Tel.: +351. 217 165 181 - Fax: +351. 217 163 048
Linha Verde do INETI
800 227 000